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terça-feira, 13 de março de 2007

As drogas estão mais perto do que se imagina


Se o problema das drogas não fosse uma realidade nos condomínios, o escritor e psiquiatra Içami Tiba não teria dedicado um capítulo inteiro de seu livro “Anjos caídos – como prevenir e eliminar as drogas na vida do adolescente” justamente aos condomínios.
O título do capítulo é Condomínio: Paraíso das drogas. Içami, que é membro da equipe técnica e científica da Associação Parceria Contra as Drogas, não está exagerando. O condomínio é o cenário ideal para o uso de drogas: seguro, onde a polícia não pode entrar, e propício à criação de um tráfico de drogas interno. “Há proteção contra os ‘bandidos’ de fora, mas não contra os usuários moradores, que passam a ter comportamentos delinqüentes, como roubar os vizinhos”, cita o médico no livro. Içami completa: “Nossos valores éticos estão mudando. Se o filho rouba uma bicicleta do vizinho, o pai paga para encobrir o erro e não ter trabalho.”

Segundo o profissional, a droga está sempre ligada à delinqüência. “A primeira é a biológica, já que a droga tira a consciência da pessoa. Ela não é mais dona dela mesma, mas está sob o domínio químico da droga. Depois, há uma transgressão social. A droga é antiética, pois o drogado só busca o próprio prazer”, constata.

Assim, certos recantos do condomínio acabam se tornando pontos de consumo de drogas. Na ausência dos pais, o adolescente transforma a própria casa ou apartamento no local adequado para reunir os amigos usuários de drogas. Tiba comenta que é comum encontrar condomínios horizontais ou verticais onde as grandes áreas de lazer têm um tráfico capilar, composto de microtraficantes. “Por esse sistema, é possível conseguir drogas facilmente, sem que os pais percebam”, completa. Ou seja, mesmo dentro dos condomínios os jovens não estão longe das drogas e dos traficantes.
Por ser freqüentemente consultado por condomínios, o psiquiatra Içami Tiba já traçou um roteiro básico para prevenção e combate às drogas. A primeira etapa é capacitar os pais. A finalidade é estabelecer os pontos fundamentais a trabalhar. Em duas horas, um profissional de reconhecida capacidade técnico-científica fala aos pais, indicando ainda leituras apropriadas. A segunda etapa é um papo aberto com os adolescentes, e até crianças, se necessário, sobre tudo o que eles quiserem saber sobre drogas. Como complemento, podem ser marcadas novas reuniões com o profissional, bem como novos encontros para a manutenção do programa. Içami frisa que a intenção não deve ser buscar culpados nem identificar os usuários. “Um problema com drogas não se resolve sozinho. Não é o síndico que deve tomar atitudes. É preciso a colaboração de todos”, diz.

O objetivo final do trabalho é que cada um dos envolvidos com a droga (viciados ou não) busque o caminho de não mais usá-la. Içami Tiba lembra que prevenir é mais fácil, eficiente e barato. Portanto, o programa oferece melhores resultados quando os jovens ainda não se interessam pelas drogas. Vale a pena tentar. “Ganhar uma batalha não significa ganhar a guerra, principalmente quando se trata de drogas, cujo consumo tem aumentado apesar de tudo o que se tem feito”, completa.

Na visão de Içami Tiba, há três tipos diferentes de condôminos, que têm também diferentes relações com as drogas:

Parasita: sua característica principal é fazer o mínimo para usufruir o máximo. Às vezes, nem chega a pagar a taxa mensal. Aproveita-se dos funcionários e dos vizinhos. Içami chama-os também de “sendôminos”, já que não têm participação condominial e não sabem viver em coletividade.

Amorfo: participa pagando. Não vai a assembléias. Não faz mal a ninguém. Só não quer ser incomodado.

Cidadão condominial: preocupa-se com o condomínio e com a comunidade, não só com a própria família. Participa de assembléias e, não raro, ocupa o cargo de síndico.
Os filhos dos parasitas aprendem com os pais e aprimoram a delinqüência, partindo para as drogas. Já os amorfos reagem ao problema das drogas tirando o filho de circulação: para eles, droga é responsabilidade das más companhias. Os que mais se preocupam são os cidadãos condominiais. Querem manter o ambiente livre das drogas.
Fonte: Revista Direcional

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